Amazonas tem três candidatas a vereadoras trans concorrendo com o nome social à vaga na Câmara
Entre as candidatas está Bruna La Close, uma das ativistas mais conhecidas e atuantes, que há mais de 20 anos milita na defesa dos direitos das pessoas gays, homossexuais, trans e travestis
Ana Celia Ossame
Na primeira vez em que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) permite ao candidato ou candidata adotar o nome social, ou seja, o nome pelo qual pessoas transexuais, travestis ou outros preferem ser chamadas, mais de 170 fizeram essa solicitação para as eleições municipais que ocorrerão neste domingo, 15, embora nem todos estejam na condição de transexuais ou travestis.
No Amazonas, três candidatas trans, sendo uma pelo município de Parintins (a 369 quilômetros de Manaus) e duas por Manaus, estão entre as inscritas com nome social. Rômulo Vlasak concorre em Parintins pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e em Manaus, concorrem Jaqueline Malldonnado, pelo partido Democracia Cristã (DC) e Bruna La Close (PT).
A aprovação a adoção do nome social no título de eleitor já havia sido definida em 2018, mas para as candidaturas vale para esta eleição e, de acordo com levantamento feito pela Aliança Nacional LGBTI+, no próximo domingo terão, pelo menos, 584 candidatos a vereador e 15 a prefeito ligados ao movimento LGBTI+.
De acordo com o levantamento da Aliança, 69 candidatos se identificam como mulheres trans, 17 como travestis e 11 como homens trans.
Sem ser escada
Bruna La Close é uma das ativistas mais conhecidas e atuantes da classe que já tem seu nome marcado nas lutas pela inclusão e respeito à diversidade. É uma das poucas que vem contrariando as estatísticas de baixa expectativas de vida das pessoas trans e travestis.
Com uma excelente expectativa para as eleições de amanhã, 15, ela acredita numa resposta efetiva em votos às visitas, caminhadas e trabalho de corpo a corpo, da cidade e da comunidade LGBT. “Estamos com espírito de mudança, cansados da mesmice e do esquecimento das autoridades das reivindicações da população LGBTQI+”, afirmou Bruna ao Portal Valor Amazônico.
De acordo com ela, que milita há mais de 20 anos na cidade de Manaus, resistir ao preconceito, à homofobia é uma vitória que não tem preço.
Entre as propostas defendidas pela candidata, está a criação do Centro de Referência dos Direitos Humanos LGBT, que sugere funcionar em algum dos prédios abandonados e terrenos baldios existentes na cidade. “Esse centro contará com assistência social, psicológica, salas de cinemas, balcão de empregos e telefone 24 horas para atender as denúncias de violência”, afirmou Bruna.
Concorrer com nome social, para ela, é uma resposta positiva às manifestações e movimentos que lutam há muito tempo pelos direitos das pessoas LBTQI+. “A gente representa uma esfera importante e as autoridades observaram que havia necessidade, por isso conquistamos o direito der usar o nome social que nos representa, que é a nossa identidade de gênero”, assegurou.
Seu slogan é “Manaus pela Inclusão” e nas postagens em redes socais, a candidata usa frases dirigidas à classe LGBTI+. “Chega de servir de escada, vote pela nossa representatividade”, afirma ela, completando: “somos nós por nós, tenho compromisso, não vamos mais ser escada de candidato, somos nós que temos que garantir a representatividade da nossa classe”, completou a candidata.
Para Bruna, a opção pelo PT deu-se pela acolhida do partido às causas defendidas por ela, que é das criadoras da Parada Orgulho LGBT em Manaus. “Por isso acredito que no domingo, dia 15, vamos garantir a representatividade ao invés de sermos escadas para outros candidatos”, pontou, enumerando que na sua plataforma de trabalho ao ser eleita está, além da inclusão social, a melhoria do transporte coletivo de Manaus e mais geração de emprego.
Outra que concorre por Manaus é Jaqueline Malldonnado, do Partido Democracia Cristã. Artista e técnica de enfermagem, como se identifica nas redes sociais, Jaqueline define-se trans e pede respeito a cima de tudo.
Fazer diferença
O cabeleireiro Rômulo Vlasak concorre à uma vaga da Câmara Municipal de Parintins. Para ele, que se compromete em fazer diferença, o povo quer a mudança, quer renovação na Câmara Municipal.
Natural de Parintins, Rômulo Vlasak diz nas suas redes sociais, ter adotado o sobrenome que vem da personagem dele Drag Queen “Ramona Vlasak” e tem como slogan de campanha “Juntos pela Diversidade e Democracia”.
Ao reconhecer a necessidade da comunidade LGBTQI estar inserida na sociedade, pois ainda sofrem por falta de políticas públicas voltadas para esse público específico, Rômulo promete, se eleito, voltar-se para esse público. “Ainda falta um olhar mais cuidadoso para com nossa saúde, para com nossos idosos e principalmente para com os nossos adolescentes LGBTs”, disse ele, defendendo uma política que abrace e acolha as pessoas identificadas como LGBTQI como cidadão com os direitos assegurados pela Constituição.
Embora somente Vlasak tenha adotado o nome social, no município de Parintins, pelo menos seis candidatos identificados como gays assumidos ou declarados vão disputar o pleito deste domingo.
Entre eles, destacam-se estão Fernando Dinho, 41, (PDT), que é técnico de enfermagem e militante há mais de 20 anos. Atualmente está licenciado da presidente da Associação de Gays, Lésbicas e Travestis de Parintins (Aglpin). Militou mais de uma década no Partido dos Trabalhadores e migrou no começo do ano para o PDT.
Dulcival Campos, 58, (PSC) é cozinheiro e promoter de eventos. Na década de 70 orgulha-se de ter “escandalizado” Parintins ao vestir-se de mulher, sendo o primeiro a fazer isso na cidade.