DESTAQUEMEIO AMBIENTE

Pesquisadores descobrem planta nativa da Amazônia que já está ameaçada de extinção

Descoberta da Tovomita cornuta foi feita por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e divulgada pela Agência Bori

Uma nova espécie da flora brasileira foi descoberta no Amazonas durante uma pesquisa ecológica inédita feita por cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). A Tovomita cornuta, uma árvore de pequeno porte já considerada ameaçada de extinção, está descrita em um estudo publicado na revista “Acta Botanica Brasilica”, nesta quarta-feira (16/02).

Descrita a partir de pesquisa de campo feita por Layon Oreste Demarchi, em parceria com Maria Teresa Piedade e Lucas Marinho, a nova espécie pertence a um grupo de plantas que compreende 53 espécies exclusivamente neotropicais da família Clusiaceae.

A espécie foi encontrada em Manaus e nos municípios vizinhos de Presidente Figueiredo e São Sebastião do Uatumã, em florestas de campinarana, regiões de menor porte que a floresta amazônica, chamadas popularmente de “caatinga” (seu solo é arenoso e pobre em nutrientes).

As campinaranas são um tipo de vegetação diferenciada que se desenvolve sobre solos arenosos extremamente pobres em nutrientes. Apesar de ocupar aproximadamente 7% da Amazônia legal, há poucos estudos sobre ela. Esse é o habitat da Tovomita cornuta, que se diferencia das outras espécies principalmente pelo formato de seus frutos, que apresentam pequenas protuberâncias semelhantes a cornos, característica que dá nome à planta. As áreas de ocorrência da espécie já são impactadas pelas atividades humanas.

Ameaça de extinção

Segundo os cientistas, a classificação de “criticamente ameaçada”, categoria de maior risco atribuído pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), está associada ao fato de que pelo menos duas áreas de ocorrência da planta ficam em regiões que sofrem com os impactos das atividades humanas.

Uma delas é a praia de Ponta Negra, na zona Oeste de Manaus, um dos metros quadrados mais caros de Manaus, classificada pelos pesquisadores como uma região “fortemente impactada pela expansão urbana desordenada associada ao desmatamento”.

Já a outra área de ocorrência da nova espécie fica em Balbina, próxima a hidrelétrica de mesmo nome, considerada um dos maiores desastres socioambientais da Amazônia. As outras duas localidades ficam nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Tupé e de Uatumã. (Veja localização no mapa abaixo.)

“Devido à alta diversidade, à grande extensão territorial e aos diversos grupos taxonômicos, a descoberta de novas espécies na Amazônia acontece principalmente quando se realizam trabalhos de coleta de campo de longa duração. Nessa descoberta da espécie Tovomita cornuta, identificamos que seu status de conservação já é ameaçada de extinção devido às pressões sobre sua área de ocorrência, que sofre com a expansão urbana não planejada, o desmatamento da mata, a extração de areia para a construção civil e a consequente perda de habitat”, destaca Demarchi.

Estudo de longo prazo

A descoberta da espécie é resultado de uma pesquisa de campo realizada durante quatro anos.  Para o pesquisador, investir em estudos com financiamento de longo prazo, além de fortalecer os institutos de pesquisas, que passam pelo sucateamento dos investimentos federais e pela falta de pessoas devido à escassez de concursos públicos, é o caminho para aumentar o conhecimento botânico brasileiro.

“Ainda existem muitas plantas não descobertas na Amazônia e a única maneira de identificarmos e conhecermos mais da nossa flora é por meio da pesquisa de campo intensiva e de estudos taxonômicos detalhados. Deste ponto de vista, a pesquisa ecológica de longo prazo é uma opção de investimento adequada. A descoberta de T. cornuta é um exemplo da relevância do trabalho de campo e destaca como estudos ecológicos e taxonômicos podem interagir para revelar a biodiversidade amazônica”, ressalta o pesquisador.

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