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Sangramento Uterino Anormal (SUA) pode dificultar gravidez

O Sangramento Uterino Anormal (SUA), agudo ou crônico, é definido como o sangramento proveniente do corpo uterino, com anormalidade, seja na sua regularidade, no volume, na frequência ou duração, em pessoas do sexo feminino que não estão grávidas. 

Segundo a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), esta perda de sanguínea excessiva pode, além dos problemas médicos, afetar a qualidade de vida, seja pela necessidade de mudança de hábitos (como as trocas frequentes de absorventes), ou porque pode estar associada a cólicas menstruais e a anemia subsequente. 

Quando tinha 40 anos, Lisane da Rosa, de Novo Hamburgo (RS), começou a notar diferenças no seu ciclo menstrual. “Era um sangramento grande. Aconteceu uma vez de eu estar em pé e, de repente, cair sangue no chão”, conta a costureira, hoje com 54 anos. “Isso afetava minha rotina e me deixava cansada. Acabei desenvolvendo anemia por causa dessa perda de sangue”. 

Depois de uma intensa investigação médica, Lisane descobriu ter sangramento uterino anormal, conhecido pela sigla SUA, uma das razões mais comuns para procura de atendimento ginecológico, mas que permanece desconhecida da maioria da população. No mundo, estima-se que a condição afeta até 40% das mulheres, porém não há dados sobre a sua prevalência no Brasil. 

Quanto à frequência, o critério é que a menstruação aconteça em intervalos de 24 a 38 dias. Já a duração de um fluxo menstrual considerado normal é de até oito dias. O volume, por sua vez, deve ser avaliado pela própria paciente. “Antes de 2018, usávamos um parâmetro objetivo, que era a perda sanguínea maior que 80 mililitros [ml] por ciclo. Mas era difícil quantificar isso objetivamente, então hoje nos baseamos na autopercepção da paciente”, detalha Gabriela.

SUA e infertilidade

Além de estar relacionado à piora da qualidade de vida, o sangramento uterino anormal e o seu tratamento podem afetar a fertilidade. No caso de Lisane, a ginecologista recomendou a histerectomia – a retirada do útero. “Eu já tinha uma filha e não queria outros”, conta. 

Embora o SUA seja a razão mais comum de indicação de histerectomia, certas pacientes com a condição desejam ter filhos. E existem estratégias capazes de preservar esse sonho, que devem ser pensados em conjunto com o profissional. “O sangramento uterino anormal é uma condição muito ampla”, explica Gabriela Rezende.

SUA tem causas e tratamentos variados

Com acompanhamento médico, Lisane descobriu que, no seu caso, o SUA decorria de miomas uterinos, um quadro mais frequente na faixa etária dos 30 e 40 anos. Além do sangramento, ele gera cólicas e infertilidade. Doenças como o câncer do endométrio e de colo do útero também são causas do SUA, assim como a adenomiose (quando o endométrio, o revestimento do útero, invade a camada do tecido muscular da região). 

Distúrbios de coagulação, síndrome do ovário policístico, ganho ou perda excessiva de peso e uso de certos tratamentos, como anticoagulantes, antidepressivos e o DIU de cobre, são outras razões por trás do sangramento. Os médicos consideram ainda causas não classificadas, mais raras, como malformações do útero. 

Ou seja, ao lidar com essas questões, muitas vezes o SUA é contido e, aí, a chance de engravidar aumenta. Os sintomas manifestados, as características das mulheres e os seus desejos também entram em cena. E aqui entra a questão da vontade de engravidar.

Por exemplo: quando o SUA vem acompanhado de irregularidade na menstruação, fica difícil até de compreender qual o período fértil da mulher – o que é importante para coordenar as tentativas de engravidar. 

Curiosamente, os médicos costumam tratar essa condição com pílulas anticoncepcionais, ou com DIU hormonal. Uma vez que o SUA é controlado, o profissional pode suspender a medicação momentaneamente e verificar se a menstruação se torna mais regular. Com isso, planeja-se de forma mais efetiva o momento de concepção. O importante, portanto, é compartilhar com o profissional suas vontades. 

Ações de conscientização 

Pensando em aumentar a conscientização sobre a condição, a Associação Crônicos do Dia a Dia (CDD) criou o movimento “SUA não é normal”, em parceria com a farmacêutica Bayer e a ONG Plano de Menina, que promove o empoderamento de garotas por meio de capacitações profissionais. O movimento “Não é Normal”, existe desde 2019, em prol da saúde de milhares de pessoas que são afetadas pelo Sangramento Uterino Anormal (SUA) e ainda não sabem disso.

A ideia é informar as mulheres sobre o que é – ou não – adequado em termos de menstruação. “O sangramento é classificado como normal em regularidade de volume, frequência ou duração”, explica a ginecologista Gabriela Pravatta Rezende, membro da Comissão Nacional Especializada de Ginecologia Endócrina da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). 

Fluxo de sangramento 

Existem momentos da vida em que é normal ter maior volume de sangramento. Isso ocorre especialmente nos extremos da vida reprodutiva – o início e o final. Depois da primeira menstruação, a menarca, é comum que se sangre de forma mais esparsa e desregulada durante os primeiros dois ou três anos. Isso ocorre, geralmente, devido à imaturidade do organismo. Já em mulheres mais velhas, que estão entrando na menopausa, o fluxo tende a se intensificar outra vez devido ao esgotamento dos folículos nos ovários. 

Ainda que esse fenômeno seja previsto em ambas as situações, o sangramento irregular deve ser acompanhado por um ginecologista para checar eventuais alterações ou desconfortos. Aliás, a recomendação é buscar avaliação médica em qualquer caso de SUA. Uma boa consulta, eventualmente acompanhada de exames, é capaz de detectar a origem do quadro e as possíveis alternativas. O site do movimento “SUA não é normal” possui um teste que permite verificar as possíveis causas do sangramento. Ele não substitui uma avaliação médica, mas seu intuito é dar pistas para o que está ocorrendo. O teste é baseado em perguntas desenvolvidas pelo grupo Help, com apoio da Febrasgo e da Sociedade de Endometriose e Distúrbios Uterinos.