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Acordo mediado pela Defensoria evita remoção forçada de 3,5 mil famílias de comunidade indígena, em Manaus

Com a medida, os remanescentes arqueológicos serão removidos da área e o processo de reintegração de posse será extinto

 No mês dos Povos Indígenas, a Defensoria Pública do Estado do Amazonas (DPE-AM) assinou, nesta segunda-feira (24), um acordo com o Ministério Público Federal (MPF), Defensoria Pública da União (DPU), Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e o Museu da Amazônia (Musa) que garante a permanência 3,5 mil famílias na comunidade Nova Vida (antigo Cemitério Indígena), área reconhecida como sítio arqueológico, no bairro Nova Cidade, na Zona Norte de Manaus. Essas pessoas corriam o risco de ter que deixar suas casas, devido um processo de reintegração de posse que tramitava na Justiça Federal. 

A comunidade começou a ser assistida pela DPE-AM em agosto do ano passado, após o Núcleo de Moradia e Fundiário (Numaf) verificar que a área se tratava de um bairro consolidado, mas sem infraestrutura adequada. De acordo com os moradores, a localidade foi ocupada em 2018, contando hoje com famílias de 16 etnias indígenas, além de imigrantes de diversas nacionalidades. 

“Estamos diante de mais um caso complexo de moradia e tratamos essa situação na nossa Câmara de Consenso, que é o método de gestão de conflitos onde todos os entes são chamados para conversar e construir, juntos, a solução mais adequada possível. Foram meses de conversas e reuniões e hoje, finalmente, estamos apresentando o acordo onde cada pessoa terá responsabilidades a cumprir”, explicou o defensor público Thiago Rosas, coordenador do Núcleo. 

Conforme o defensor, o trabalho vem sendo construído há aproximadamente oito meses em parceria com o MPF, DPU e Iphan, além de órgãos estaduais como a Procuradoria-Geral do Estado (PGE), Superintendência de Habitação (Suhab) e própria comunidade.

Durante as conversas, decidiu-se pela permanência das famílias na localidade, mas uma série de medidas serão tomadas a fim de resguardar o patrimônio arqueológico ainda existente no local. 

Retirada e salvaguarda

Entre as principais medidas adotadas estão a escavação e a remoção das cerâmicas e urnas funerárias ainda presentes no solo, bem como a salvaguarda do material. 

Esse trabalho será realizado pelos arqueólogos do Museu da Amazônia, em parceria com os indígenas da comunidade, e mediante a anuência do Iphan. Ainda conforme o acordo, um cronograma de atividades será criado, com a finalidade de assegurar o pleno andamento dos trabalhos. Após a remoção dos remanescentes, o processo judicial de reintegração posse será arquivado. 

Depois disso, a proposta é que todo o material coletado seja objeto de pesquisas acadêmicas e exposições, assim como servir para fins educacionais. 

“Esse resultado é extremamente importante porque pela primeira vez toda a comunidade Nova Vida foi ouvida pelos órgãos, participando ativamente das discussões, e porque conseguimos chegar à solução sem a necessidade da judicialização de um novo processo”, enfatizou o defensor.

Outro aspecto importante destacado por Rosas é que devido à batalha judicial até então existente, os moradores enfrentaram dificuldades para acessar políticas públicas como infraestrutura, educação, saúde e segurança, o que deve mudar significativamente a partir de agora.

“Até pouco tempo não tinha energia elétrica e só agora a água encanada está sendo regularizada. Então, o que estamos fazendo aqui é um típico caso de reforma urbana, porque a área vai ser regularizada e vai se tornar efetivamente um bairro de Manaus”, completou. 

Alegria e gratidão

O cacique e presidente da Associação Multi Etnia Cultural Nova Vida, Raimundo Ferreira da Silva, agradeceu o empenho da DPE-AM e disse estar feliz com o resultado obtido. “A Defensoria teve um papel extremamente importante para que chegássemos até aqui. Estamos muito felizes e gratos pelo objetivo alcançado”, disse ele. 

A dona de casa Perpétua Marulanda, moradora da comunidade, diz que com a assinatura com acordo, vai poder ficar mais tranquila. “Esse é o meu lar, a minha casa. Só de saber que não vou mais ser obrigada a sair daqui, de deixar a minha casa pra trás, isso me deixa mais confiante e segura. Agora é esperar por melhorias para a nossa comunidade”, frisou. 

Fotos: Evandro Seixas e Fernando Crispim-DPE/AM

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